terça-feira, 13 de setembro de 2011

Devaneio

Devaneio
Luiz Carlos Meneses

Eu refaço o que me cabe negar.
Olho as coisas com renovada curiosidade.
Ânsia de ser-a-vir.
Coragem de se derramar.

Um cofre de poeirentos tesouros
arremesso pela janela.
A riqueza tola é a completa pobreza
das almas que se vão sem penar.

Clara é a cor de tuas doces paisagens,
que teimo em novamente explorar.
Cortante o olhar do dia que corre...
Sem explicações, morre.

Vai o poeta escorregar no vão da esquina interior.
Aldeia de índios incólumes ainda hoje.
Verso que, escrito ao acaso,
deteriora-se sem que lido fosse.



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De volta.

Grande e afetuoso abraço!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A Queda

A Queda
Luiz Carlos Meneses

Eu vi sua queda.
Foi uma daquelas que dão medo,
mas ensinam o segredo
de se saber levantar.

Pois buraco não é caminho,
a lama não faz carinho,
o pior é se acomodar.

Eu vi você se erguer,
vi você querer,
eu vi você chorar...

E eu quis tanto lhe dizer,
que há de tudo em você,
há mais força do que fossa.

Esqueça o moribundo,
reinvente o seu mundo,
saiba mesmo se reencontrar.

E chute o pé que lhe pisava.
Quebre a vil corrente que escravizava.
Cubra de socos
o seu antigo capataz.

Você é capaz.

Siga em paz.

Ande.

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Agradeço, prezado leitor e prezada leitora, por aceitar o "Convite".

Fiquemos firmes com o desejo de viver em poesia.
O convite sempre se refaz.


Grande e afetuoso abraço!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Penoso Despertar

Penoso Despertar
Luiz Carlos Meneses

Penoso despertar, após sonho intempestivo:
é tão doloroso ser insone!
A cada minuto some
a refinada habilidade de adormecer...


É dura a tarefa de recolher os despojos
e o espólio consagrado à desolação.
Quando tudo que se faz é vão,

pouco sobra do que se imaginava ser...


Vão os olhos brincar no vão infinito,
no finito, na imagem viva do que passou,
na escura parede do quarto onde estou.
O que brota em mim é indesejado.



Há o tempo em que tudo é simples,
tempo corrente, de tolice e ilusão.
Armei o circo e sou a atração:
no picadeiro, o espetáculo da vida vivida sem razão.

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Agradeço, prezado leitor e prezada leitora, por aceitar o "Convite".

Em meio a um período de grande turbulência, entre monografia, trabalho e outras questões,

a poesia, misteriosamente, permanece.
O convite sempre se refaz.


Grande e afetuoso abraço!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Uma Batida


Uma Batida
Luiz Carlos Meneses

A batida do coração
que ruge
e muge
e surge
vem me acordar.

Ela soa
e ressoa.
Se faz pessoa
com algum movimento.

E pulsa
é avulsa
e expulsa
de mim o maquinar.
Da máquina, o bafejar.

Ela é tortura
e pouco dura.
É vida pura
e vem me alentar...

A batida é esperta
faz um alerta
é ferida aberta
não tem solução.

A batida do coração
substitui o bocejo
alivia o pejo
de sangue é toda desejo
de sangue é toda tensão.

E vem me acordar
e vem me pulsar
e vem me alentar:

"pretenso humano".



Agradeço, prezado leitor, por aceitar o "Convite".
Após longo tempo sem postagens, a poesia se impõe a mim novamente.
Sigamos juntos dela, nesse convite que compartilhamos!


Abraços a todos e até!

quarta-feira, 16 de março de 2011

14 de Março - Dia Nacional da Poesia*


Tecer poemas:
absurdo modo de (re)fazer-se humano.




*não esquecendo: todo dia é da poesia... Viva Castro Alves!



Obrigado, leitor, por aceitar o "Convite". Volte sempre!


Abraços a todos e até a próxima!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Após a Vidaurora

Após a Vidaurora
Luiz Carlos Meneses

Quando, após a vidaurora,
vir finalmente a escuridão,
a mais noturna das noites
será convite à solidão…

Encontrarás o teu avesso,
e verás o que hoje nega.
Saberás que a vida é laço
e que esconder-se é vão…

Descobrirás que és o pó
e que a ordem natural
indica que não há ordem.
Somos todos efêmeros.

Saberás que a última gota
vale como qualquer outra.
E que uma chuva é única:
só se chove uma vez…

Terás menos histórias
do que gostaria de contar.
Mas sentirás na pele
o peso de cada dia vivido.

Tua companhia, então,
será apenas a incerteza:
quantos dias ainda?
quantas noites ainda?

Irás sonhar com a vida
que, tolamente, não viveste.
Lamentarás, enrugado,
cada dança que não dançaste…


Agradeço, prezado leitor, por aceitar o meu "Convite". Seja sempre bem-vindo!

Abraços a todos e até a próxima!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Um pouco de romantismo besta e exacerbado...

imagem extraída do filme "Malena"


Soneto Tolo e de Rimas Fáceis
Luiz Carlos Meneses

Fiz um poema para lhe descrever,
e percebi que não conseguiria.
Poeta que sou, decidi viver
procurando verso que a definiria.

Iniciei assim a busca pelo verso
que diga o que passa na minha alma.
E nesse poema singelo eu confesso
que tua presença me encanta e acalma.

Ainda busco a palavra mais bonita,
para uma poesia de pura leveza,
para que eu possa tentar explicar:

os teus cabelos de noite infinita…
o teu sorriso de irresistível beleza…
os teus olhos que me fazem sonhar…

Obrigado, leitor, por aceitar o "Convite". Volte sempre!

Abraços a todos e até a próxima!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Na Natureza Selvagem - Chris Mccandless


Saudações poéticas a todos!

Dessa vez, resolvi homenagear uma figura diferente. Não se trata de um poeta, mas de um apreciador da literatura que fez de sua vida um exemplo de coragem, desprendimento e vivência da poesia. Christopher Mccandless, ou como ele próprio se rebatizou, Alexander Supertramp.

Travei contato com Mccandless através do filme "Na Natureza Selvagem", de Sean Penn, e ficando profundamente tocado pela história, escrevi essa poesia simples, que registra uma homenagem a sua trajetória de vida. Deixo um agradecimento ao Marcus, que indicou e emprestou o filme!

Espero que gostem do poema e recomendo que assistam o filme. Ainda espero ler o livro em breve. Novamente agradeço ao pessoal que visita o blog. Novos projetos estão surgindo e movimentando os apreciadores da poesia!



Na Natureza Selvagem
Luiz Carlos Meneses
para Christopher Mccandless

Caminho na natureza intocada,
sentindo no rosto a brisa suave.
Tingido pelo mais agressivo sol,
perder-me-ei numa selvagem jornada...

Aspiro a dias de liberdade.

Vejo os olhares tão frios
e conheço cada mazela da sociedade.
Sei que os homens anularam-se,
sei que os homens perderam os brios...

Necessito estar sozinho.

Ergo minha voz contra a hipocrisia,
nego as falsas e tolas aparências.
Cabem em mim todas as lutas
e trago no peito a mais pura rebeldia...

Farei meu próprio destino:

agora eu caminho
na natureza selvagem...

Abraços a todos!

* uma leitora havia deixado um recado no orkut, elogiando os textos. Acabei excluindo esse recado acidentalmente e sem ter respondido. Então, se essa pessoa passar por aqui, fica o meu "muito obrigado"! Volte sempre e refaça o contato!

domingo, 16 de janeiro de 2011

Olhares


Olhares
Luiz Carlos Meneses

Eclipsados olhos me percorrem,
astutos e sisudos como os seus.
Dizem-me ligeiros um singelo adeus,
e se vão para nunca mais, morrem...

Apanham-me no meio da rua escura,
e num momento que pouco perdura
trazem infinitas e estranhas sensações
de dor, medo, mistérios e paixões...

Há olhares que fazem eu me sentir jovial,
alguns me lançam no meio dum temporal,
e há inúmeros outros que me fazem chorar...

Olhares oblíquos, que desejo decifrar.
Olhares simples, que parecem algo dizer:
"parto, mas algo de mim contigo irá viver..."


* poema publicado no livro "Planador", da Academia Formiguense de Letras - AFL.

Abraços a todos e até breve!

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Inútil Luta

Inútil Luta
Luiz Carlos Meneses


Na minha cabeça, o pensamento queima.
Nada mais posso fazer.
O pensamento não me deixa.

Não me deixa viver.


Eu bem que queria evitar.
Fiz de tudo que podia, em vão.

Enclausurar um homem é fácil.

Mas o pensamento não.


Se vou à rua, encontrar amigos,
se saio à noite, achar confusão.

Não importa o que faça,

o pensamento tem razão.


E faço de conta que não tenho cabeça.

Sento o martelo, deixo esfacelar.

Ou eu mato aquilo em que penso,

ou o que penso vai me matar.


E se o que penso explica o que sou,
se o que não quero pensar

é o que melhor me define,

me prendam: eu sou um crime.


Pois o que penso, o verso não diz.

O que penso, a boca não fala.

O que penso sempre me cala.

O que penso me contradiz.